24 de set. de 2007

Procura da Poesia



Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros.
Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema.
Aceita-ocomo ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas
sob a face neutra e te pergunta,
sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara: ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite,
as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

Carlos Drummond de Andrade

Um comentário:

Jeanine Will disse...

Olá Wellington,

sabe que a tua poesia que deixaste no meu blog me lembrou de imediato este poema do Drummond. Que coincidência!

Gostei do teu Canto da Poesia. O link já está lá no meu blog. Um colorido encanto.

Um abraço,
Jeanine.